Por Cartas Abertas

segunda-feira, novembro 13, 2006

A problemática da subsidiodependencia cultural. As suas causas e os seus efeitos.

Este tem sido, talvez dos temas mais debatidos nos meandros culturais e governamentais das ultimas décadas. São ou não, os agentes culturais do nosso pais, subsidiodependentes do estado para produção e manutenção dos seus espectáculos?

A resposta é simples. São!

E ainda bem que são, porque sendo significa que o Estado (central ou local)tem uma preocupação com o incremento e desenvolvimento cultural do pais e das regiões.

A problemática da subsidiodependencia não está na atribuição de um subsidio a um qualquer agente cultural. Está sim, na forma como esse agente cultural aplica e gere esse mesmo subsidio.

Esta é que é a grande questão. Aplicarão bem todos os agentes culturais subsidiados os seus subsidios? ou melhor, tem o subsidiante Estado retorno dos subsidios atribuidos?

Não!

A ideia de uma cultura sem subsidio, é a ideia de uma cultura que se torna obrigatoriamente num sistema que tende para a morte.

A grande questão é saber avaliar e agir contra todos aqueles que gerem mal a oportunidade que o Estado dá para a produção de espectáculos.

As politicas culturais dos governos de Londres, Paris, Berlim, Madrid, Barcelona e Roma (para exemplo) dizem-nos isso mesmo. Estes nossos parceiros europeus que subsidiam a cultura, encontraram mecanismos de avaliação das produções dos agentes culturais, obrigando-os a apresentar retorno face aos investimentos e subsidios atribuidos.

E o retorno é nada mais nada menos do que manifestações populares, nacionais e internacionais, de adesão e aceitação aos seus espectáculos. Tão simples quanto isto. Se é tradição ver espectáculos, visitar museus e galerias em Londres, Paris,Berlim, Madrid, Barcelona e Roma é porque o incremento cultural desses mesmas cidades é tido como uma aposta clara no quadro do desenvolvimento nacional.

Quero com isto dizer que a problemática da subsidiodependencia, não pode ser uma via univoca, cuja responsabilidade do fracasso é sempre atribuido a quem recebe e nunca a quem atribui. O Problema português é simples e prende-se com apostas e rumos politicos que tendem a desviar-se cada ver mais de uma politica cultural integrada quer a nivel nacional, quer a nivel internacional.

Um pais como Portugal, cuja história assenta essencialmente em tradicões e manifestações culturais, sendo a sua lingua o expoente máximo dessas mesmas manifestações, não pode agir com a problemática cultura da forma que tem insistentemente vindo a agir.

Como exemplo temos o "Caso Rivoli". A medida de Rui Rio peca pelo exagero emotivo que a envolve. Não é fácil para um qualquer executivo, seja ele municipal ou central, não ter o tal "retorno" que os seus investimentos exigiam. Portanto, criticar Rui Rio pela ordem de retirada da Companhia do Rivoli não é certo. Pois ninguém compreende que uma casa com a dimensão cultural e histórica com o Rivoli esteja entregue a produtores cujos espectáculos dificilmente ultrapassavam os 10 % de ocupação. Contudo privatizar uma casa que é dos portuenses, e no limite de todos os portugueses não é a opção mais correcta. Haviam outras formas de resolver este caso, inclusivamente com um concurso para uma gestão integrada, mas sempre publica, do Rivoli (Como alias acontece no TNSJ).

1 Comments:

  • Só não gosto da palavra subsídio.
    O dinheiro que se atribui aos projectos culturais é investimento.
    A cultura engloba muita coisa e, inquestionavelmente, o acesso ao conhecimento, às referências, aos valores civilizacionais, às diferentes formas de expressão do Homem, em particular no que se refere ao estético.
    Por isso os "produtos" da cultura não são iguais a meros produtos do mercado -que se vendem ou compram e que se podem substituir por outros. Ninguém substitui um Camões por um Pessoa, um Almada por Picasso, um Mozart por um Chopin, os Beatles pelos Trovante, uma Amália por uma Mariza e, por aí fora.
    Como não são meros produtos de mnercado e devem estar acessíveis aos cidaddãos,pois são essenciais à sua formação, o Estado e as Autarquias - que devem assegurar o interesse público, devem investir na melhoria das condições de acesso e de disponibilização dos bens culturais e, por isso, apoiar financeiramente essa possibilidade.
    Não é novidade! Está escrito e praticado há muitos séculos!
    Pobre País que questiona estas necessidades de investimento!

    By Anonymous Anónimo, at 11:27 da tarde  

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